Padre
José de Anchieta
1533-1597
O padre José de Anchieta nasceu em São Cristóvão
no ano de 1533, e faleceu em Iriritiba no Espírito
Santo no dia 9 de julho do ano de 1597, foi o primeiro missionário
a vir para o Brasil. Quando chegou, Anchieta tinha 20 anos.
Veio na comitiva de D. Duarte da Costa, segundo Governador
Geral.
No
ano de 1554 Anchieta fundou o terceiro Colégio do Brasil,
e no dia 25 de agosto foi celebrada a primeira missa no Colégio.
Este lugar recebeu o nome de São Paulo; Anchieta construiu
também um seminário de orientação
perto do colégio.
José
de Anchieta deu aulas de castelhano, latim, doutrina crista
e a língua brasílica, lia e escrevia o idioma
Tupi com muita facilidade, escreveu livros em Tupi, foi intérprete
junto aos índios tamóios que estavam em batalha
contra os portugueses. Nessa época Anchieta escreveu
um poema dedicado a Virgem Maria, no ano de 1567 na expulsão
dos Franceses que moravam no Rio de Janeiro Anchieta ajudou
Estácio de Sá.
Para
os índios era médico e sacerdote, cuidava das
pessoas doentes e das feridas, da espiritualidade dos Índios.
Anchieta recebeu um preparo grande e um conhecimento elevado
na Europa, na sua catequese usando teatro e da poesia, porque
era mais fácil para aprender, merecidamente foi chamado
de Apóstolo do Brasil; obras que escreveu: Poema em
Louvor a Virgem Maria, Arte da Gramática da Lingua
mais Conhecida na Costa do Brasil, e outras obras como História
do Brasil. Seu nome completo é José de Anchieta.
Fonte:
www.bibvirt.futuro.usp.br
Padre
José de Anchieta
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A história do Brasil dos primeiros tempos está,
inegavelmente, muito ligada aos missionários, entre
os quais, pe. José de Anchieta. Espanhol, nascido em
Tenerife em 19 de março de 1534, entrou na Companhia
de Jesus em 1551 e enviado para o Brasil em 1553. Tinha sérios
problemas de saúde, sobretudo na coluna, que o fazia
levemente corcunda e o impedia de cavalgar nas intermináveis
peregrinações pelas terras brasileiras. Contudo,
esses sofrimentos não o desanimaram em sua missão.
Anchieta,
mais que outros, marcou os aspectos religiosos, literários
e políticos do início do Brasil. Ajudou a fundar
o colégio de Piratininga, embrião da cidade
de São Paulo, e a casa de misericórdia em Niterói.
Iniciou aldeamentos que se tornaram cidades, como a atual
Anchieta, Guarapari e São Mateus, no Espírito
Santo. Foi professor, catequizador, pacificador dos índios,
estudou e aprendeu em poucos meses a língua tupi, organizando
a gramática e um dicionário; foi mestre em várias
artes e profissões ensinadas aos índios.
Teve
um papel fundamental na pacificação dos tamoios,
dos quais ficou prisioneiro voluntário por uma longa
temporada, durante a qual escreveu o famoso poema a Nossa
Senhora, redigido primeiramente nas areias de Itanhaém,
em São Paulo. Incentivava os portugueses a tratarem
os índios não como conquistados e escravos,
mas a integrá-los, incentivando até os casamentos
entre os dois povos. Sua área de trabalho se estendia
de Pernambuco até São Paulo. Seus últimos
anos transcorreram em Vila Velha, ES, onde faleceu em 1597,
com 63 anos.
Se,
como personagem do seu tempo pode ter tido algumas ações
discutíveis numa mentalidade moderna, não se
pode negar que José de Anchieta era de uma santidade
heróica que se revelava através de suas cartas
e de seus atos. Em primeiro lugar, o amor aos índios,
num tempo em que nas universidades européias se discutia
se índios e negros teriam uma alma. Ele os tratava
como irmãos em Cristo, com todas as conseqüências
que essa definição podia trazer concretamente;
defendia-os dos vexames dos conquistadores, curava os doentes,
criou escolas para órfãos, merecendo, pela sua
ação pastoral e social, o título de "Apóstolos
dos Índios" e exemplo celebrado de educador.
Sua
espiritualidade revela uma alma pura e simples, totalmente
devotada ao amor ao próximo, embasado no amor a Cristo.
Escrevia, ainda seminarista, durante sua viagem para o Brasil:
"Senhor, que meu coração seja grande de
zelo missionário. Grande como estas vagas revoltas
que balançam o nosso barco". Demonstrava claramente
seu amor aos índios e aos irmãos menos afortunados,
colocando-se a serviço deles. Hoje, diríamos
que favoreceu a promoção humana. Toda a sua
odisséia de missionário, de sofredor e pacificador,
encontra-se em versos entremeados aos louvores à Virgem
Maria, compostos quando prisioneiro voluntário entre
os tamoios e correndo sérios perigos.
Fonte:
www.pime.org.br
Padre
José de Anchieta
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Apóstolo no Brasil, também conhecido como Beato
Anchieta. Estuda em Coimbra a partir de 1548 e ali se torna
jesuíta em 1551. Em Maio de 1553 é enviado para
o Brasil, onde começa por ensinar Latim no Colégio
de Piratininga. Este Colégio é mudado em Janeiro
de 1554 para um novo local, com o nome de Colégio de
S. Paulo, o qual vem a ser considerado o núcleo da
actual cidade de S. Paulo. Neste local, hoje designado como
Pátio do Colégio, encontra-se também
a Capela de Anchieta, igreja erguida não só
pelo Pe. Anchieta mas também pelo Pe. Manuel da Nóbrega,
igreja esta que vem a desabar em 1896.
Entretanto,
uma réplica desta igreja é construída.
Ali, pode hoje admirar-se esta nova igreja, assim como a Casa
de Anchieta com objectos e imagens que, supõe-se, são
pertença do beato.
Os
alunos do Colégio são os filhos dos portugueses
e os jovens religiosos da sua ordem, mas também os
índios. O Pe. Anchieta começa a estudar a língua
indígena, compõe uma gramática e um vocabulário
tupi, escreve também em tupi um opúsculo para
os confessores e outro para assistir aos moribundos. Para
além destas obras, dedica-se também a escrever
cantos piedosos, diálogos e autos segundo o estilo
de Gil Vicente, e, por isso, é considerado o iniciador
do teatro (Mysterios da Fe, dispostos a modo de diálogo
em benefício dos índios é um exemplo
das 12 peças de que há testemunho) e da poesia
(De Beata Virgine Dei Matre Maria) no Brasil.
De
destacar também as suas cartas para Portugal e Roma,
importantes pelas informações que contêm
sobre a fauna, a flora e a ictiologia brasileira.
Com
Manuel da Nóbrega, contribui para a paz entre os portugueses
e várias tribos índias, nomeadamente a mais
feroz: a dos Tamoios. Em Março de 1565 entra na Baía
de Guanabara com o capitão-mor Estácio de Sá,
onde estabelecem os fundamentos do que viria a ser a cidade
de S. Sebastião do Rio de Janeiro. Recebe as ordens
sacras no final desse mês de Março na Baía,
hoje cidade de Salvador. De novo no Rio, em 1567 vai para
S. Vicente como superior das casas da capitania, a de S. Vicente
e a de S. Paulo, onde permanece até 1577, data em que
é nomeado provincial do Brasil. Em 1589 é já
superior de Espírito Santo, onde fica até morrer.
O Pe. Anchieta acaba beatificado em Junho de 1980 pelo papa
João Paulo II, beatificação esta, ao
que parece, que a perseguição do marquês
de Pombal aos jesuítas impede até então.
Fonte:
www.avanielmarinho.com.br
Padre
José de Anchieta
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(San Cristobal de Laguna, Tenerife, Ilhas Canárias,
Espanha 1534 - Reritiba, atual Anchieta ES 1597)
Fez
estudos eclesiásticos na Companhia de Jesus em Coimbra,
Portugal, em 1549. Entrou para a Companhia de Jesus em 1551
e, dois anos depois, veio para o Brasil, com o objetivo de
catequizar os índios. Em 1554 fundou o Colégio
dos Jesuítas, que daria origem ao povoado de São
Paulo do Campo de Piratininga [São Paulo] SP. Foi professor
de latim, professor de índios e mamelucos e também
professor dos noviços que entraram para a Companhia
de Jesus no Brasil.
Entre
1563 e 1595 viveu em São Paulo SP, Rio de Janeiro RJ
e Espírito Santo ES, e escreveu poesia, teatro em verso,
prosa informativa e histórica. Em 1595 foi publicada
em Lisboa, Portugal a Arte de Gramática da Língua
mais Usada na Costa do Brasil, primeira gramática da
língua tupi.
Em
1663, também em Lisboa, ocorreu a publicação
póstuma do poema De Beata Virgine Dei Maria (O Poema
da Virgem), no livro Crônica da Companhia de Jesus do
Estado do Brasil, de Simão de Vasconcelos. As poesias
de Anchieta estão entre as primeiras manifestações
literárias brasileiras. Inicialmente escritas em castelhano,
sua língua natal, são depois produzidas em português
e, finalmente, em tupi. Seus poemas são de temática
religiosa e exprimem visão de mundo medieval.
Fonte:
www.itaucultural.org.br
Padre
José de Anchieta
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José
de Anchieta nasceu em 1534, em Tenerife, nas Ilhas Canárias.
Ainda garoto, ingressou na Companhia de Jesus, onde desenvolveu
uma profunda formação cultural e religiosa.
Desde
cedo manifestou pendores literários, tendo sido poeta
reconhecido em Coimbra. Escreveu contos, sermões e
textos dramáticos. Expressava-se em latim, português,
espanhol e tupi.
Chegou
ao Brasil em 1553, na comitiva do governador-geral Duarte
da Costa, e em 1554, ao lado do Padre Manoel da Nóbrega,
fundou a vila de São Paulo, tendo, inclusive, participado
ativamente da sua defesa quando da invasão dos índios
tamoios, logo após a fundação. Participou,
também, da expulsão dos franceses do Rio de
Janeiro, em 1567.
É
de sua autoria a primeira gramática da língua
tupi, publicada em Coimbra em 1595.
José
de Anchieta morreu em 9 de junho de 1597, em Reritiba (hoje
Anchieta), no estado do Espírito Santo. Tinha 63 anos,
25 dos quais vividos no Brasil.
Fonte:
www.brazilsite.com.br
Padre
José de Anchieta
José de Anchieta nasceu no dia 19 de março de
1534, em São Cristóvão de Laguna, Tenerife,
uma das ilhas do arquipélago das Canárias. Em
1548, Anchieta chegou ao Colégio das Artes e com 17
anos ingressou no noviciado. Após estudar em Coimbra,
Portugal, ingressou na Companhia de Jesus em 1551. Em julho
de 1553 deixou Portugal e veio para o Brasil na comitiva de
Duarte da Costa, com o intuito de catequizar os índios.
Em 1554, fundou, com Manuel da Nóbrega, um colégio
em Piratininga. Aos poucos se formou um povoado ao redor do
colégio, batizado por José de Anchieta como
São Paulo. Algum tempo depois, é enviado a São
Vicente, onde aprendeu a língua tupi.
José
de Anchieta escreveu inúmeros autos, cartas e poesias
de cunho religioso. Além disso, resultante do seu trabalho
de catequese, escreveu Arte da gramática da língua
mais usada na costa do Brasil, primeira gramática da
língua tupi-guarani. A poesia escrita por José
Anchieta está impregnada de conceitos morais, espirituais
e pedagógicos. Por isso, sua linguagem é simples,
apesar de ser escrita em redondilhas menores (cinco sílabas
poéticas).
Em
1563, foi refém, durante cinco meses, dos índios
tamoios. Nesse período escreveu o poema em latim "De
Beata Virgine Dei Matre Maria" e vários autos
religiosos. Já doente muda-se para o Espírito
Santo, onde morreu aos 63 anos, na cidade de Reritiba, atual
Anchieta. Em 1980, foi beatificado pelo papa João Paulo
II.
Fonte:
www2.portoalegre.rs.gov.br
Mais
sobre Pe. Anchieta:
O
texto abaixo é reproduzido da enciclopédia Grandes
Personagens da Nossa História, publicada pela editora
Abril Cultural, da capital paulista, em maio de 1969, volume
I.
Note-se
que o ano do nascimento de Anchieta é controverso:
a maioria dos autores adota a data de 19 de março de
1534, mas o cronista português Padre Simão de
Vasconcelos (1597-1671) afirma que Anchieta nasceu exatamente
um ano antes, em 1533, que é a data seguida no texto
abaixo reproduzido:
Anchieta
- 1533-1597
Um bando de araras corta a mata com suas cores e seus gritos;
dois macaquinhos enfurecidos guincham em luta; um grupo de
homens volta da pescaria, mas nada consegue perturbar aquele
grupo de meninos índios, uns cinqüenta, em volta
da batina negra de José de Anchieta. No ar há
cheiro de tempestade.
Os
garotos estão com os olhos presos a um tablado enfeitado
de folhas de bananeira. Lá, três de seus companheiros
representam uma cena de conversão: um, de blusa branca,
é o Bem; outro, de blusa vermelha, é o Mal;
e o terceiro, de blusa azul, puxado ora por um, ora por outro,
é o jovem a dar os primeiros passos no caminho da conversão.
Nem
os relâmpagos que riscam o céu os intimidam;
nem os trovões com seus estrondos os assustam; nem
a ameaça de chuva grossa os amendronta. Eles estão
todos muito interessados, fazendo teatro, e o espetáculo
não pode parar.
O
Bem puxa de cá, o Mal puxa de lá. O indiozinho
de azul parece que vai ceder às tentações
do pecado, mas ainda resiste. E ouve o que lhe diz o garoto
de branco, que fala do céu e dos santos, e das maravilhas
da virtude. O Bem vence. O jovem, antes indeciso, abraça-o.
O menino de vermelho finge raiva e grita.
Chega,
então, o clímax: entre palmas e gritos agudos
dos assistentes, o Bem derruba o Mal e conquista o jovem para
Cristo. O Mal foge para o mato e, previdente, volta sem a
blusa vermelha, sua marca. Anchieta, sorridente, abraça
os pequenos atores. Seu teatrinho é um sucesso. Os
indiozinhos pedem bis, ele promete:
-
Amanhã tem mais.
Aquele
homem era baixo, moreno, muito magro e meio torto, por causa
de um desvio na coluna. Tinha a testa larga, nariz comprido,
pouca barba e os olhos meio azulados. Em suas andanças,
caminhava sempre descalço, a barra da batina arregaçada.
E andou grande parte do Brasil: professor, catequista, poeta,
lingüista, teatrólogo, médico, cozinheiro,
sapateiro, padre, diretor de colégio, pregador, confessor,
provincial, diplomata e fundador de cidades.
Anchieta
veio para o Brasil em 1553, na frota que trouxe o segundo
Governador Geral, Dom Duarte da Costa. Era, então,
apenas noviço da Companhia de Jesus, um moço
de dezenove anos, Irmão José de Anchieta. Nos
65 dias de travessia, cozinhava e ensinava catecismo para
os marinheiros. Alegre e amável, não tinha,
entretanto, nenhuma marca especial que deixasse entrever nem
o pioneiro, nem o apóstolo. Mas era ativo, de espírito
forte.
Ativo
como os pioneiros, de espírito forte como os apóstolos,
José de Anchieta é uma das figuras mais constantes
nos acontecimentos históricos da segunda metade do
século XVI. Presente na fundação de São
Paulo, presente na expulsão dos franceses do Rio, presente
na pacificação dos índios, ora estava
no litoral paulista, ora no do Espirito Santo, Bahia, Rio
de Janeiro, Pernambuco, em toda parte.
.......................
Casa
em Tenerife onde José de Anchieta nasceu e passou seus
primeiros anos
Imagem: enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História,
Ed. Abril, S.Paulo/SP, 1969, vol. I
Um poeta, o "Canário de Coimbra" - José
de Anchieta nasceu a 19 de março de 1533, em San Cristóbal
de La Laguna, na ilha de Tenerife, arquipélago as Canárias,
pertencente à Espanha. Era o terceiro filho do segundo
casamento de Dona Mência Dias de Clavijo Llerena, descendente
dos conquistadores de Tenerife.
Seu
pai, João Lopez de Anchieta, um fidago basco originário
do vale da Urrestilha, na Espanha, refugiara-se nas Canárias,
em 1522, depois de participar de uma rebelião, pelo
que fora condenado à morte. Mas, graças à
interferência do Capitão Inácio de Loyola,
seu amigo, consegue ser anistiado e vai tentar vida nova em
Tenerife.
Na
ilha, João Lopez de Anchieta, em uns poucos anos, conseguiu
alguma posição e fortuna e se fez respeitado
e estimado. E assim conheceu Dona Mência, a viúva
com quem se casou.
Entre
os cuidados de Dona Mência e de João Lopez, José
de Anchieta teve, ao lado dos irmãos, uma infância
protegida. Segundo o costume da época, aprende as primeiras
letras ainda em casa. E só depois é que possivelmente
freqüenta a escola dos dominicanos, bem próxima
à sua moradia, onde recebe os primeiros conhecimentos
de gramática latina.
Já
tem catorze anos, quando, em companhia de Pedro Nuñez,
seu irmão mais velho, vai a Portugal para continuar
os estudos. Lá, matricula-se no Real Colégio
de Artes, onde estuda humanidades e filosofia. E logo se distingue
pela facilidade com que faz versos em latim, o que lhe vale
mesmo o apelido de "Canário de Coimbra".
Da
religiosidade de sua família e do seu misticismo extrai
a vocação de sacerdote, que se aviva quando
trava conhecimento com a Companhia de Jesus, ordem religiosa
fundada pelo mesmo Inácio de Loyola que salvara seu
pai da pena de morte.
Corre
o ano de 1550 e o jovem José de Anchieta se candidata
ao Colégio da Companhia de Jesus, em Coimbra.
Com
dezessete anos de idade, em 1551, José de Anchieta
é recebido como noviço. E passa a ajudar de
cinco a dez missas todos os dias, dividindo o seu tempo entre
a meditação, a oração e o estudo
de retórica e filosofia.
O
ritmo intenso da vida no colégio lhe abala a saúde.
Um ano depois está doente: uma violenta dor nas costas
que aumenta com o tempo. É um moço de dezoito
anos. Mas a doença o faz velho, a coluna vertebral,
quase um S, obriga-o a usar faixas que não conseguem
disfarçar o defeito.
Teme,
então, ter que deixar tudo: o estudo, a Companhia,
a vocação. Mas vai se agüentando, com suas
costas encurvadas, e até é capaz de brincar
com a própria desgraça:
-
A natureza me preparou para carregar fardos.
1553,
um alvoroço no colégio: alguns vão ser
escolhidos para as missões no Brasil. Anchieta é
alegremente surpreendido com a indicação do
seu nome. Aceita, e é entre surpreso e alegre que vive
os 65 dias da longa viagem. Enquanto cozinha ou descansa das
aulas de catecismo, o moço sonha com o Brasil, terra
de que ouvia falar desde sua admissão na Companhia
de Jesus.
....................
Coimbra,
no tempo em que Anchieta lá estudou
Imagem: enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História,
Ed. Abril, S.Paulo/SP, 1969, vol. I
(Reprodução de Civitatis Orbis Terrarum, vol.
V, de Hoefnegel, Biblioteca Municipal de S.Paulo)
A difícil tarefa dos jesuítas - Os primeiros
jesuítas tinham vindo para o Brasil em 1549, e Anchieta
aprendera que eram importantes os dias em que chegavam cartas
do Brasil, com notícias dos missionários, da
conversão de índios, de guerras entre tribos
e dos primeiros sucessos da colonização daquele
mundo novo.
Do
descobrimento, em 1500, até o estabelecimento do primeiro
Governo Geral, em 1549, o Brasil viveu meio esquecido e meio
abandonado pela corte portuguesa, que vivia embalada pelo
sonho de fortuna representado pela exploração
da Índia.
Nessa
primeira metade do século, só se conhecia estreita
faixa do imenso litoral onde foram estabelecidas as primeiras
povoações. Entre 1532 e 1549 surgiram pequenos
núcleos de população na Bahia, Espírito
Santo, São Vicente e Pernambuco, vivendo de uma agricultura
de subsistência e de uma incipiente produção
de cana-de-açúcar, resultado do trabalho de
índios aprisionados.
Isso
era tudo, quando, quase na metade do século, Dom João
III, acordando do seu sonho com as Índias e alarmado
com as ameaças estrangeiras de ocupar o Brasil, passa
a se preocupar com a Colônia e decide enviar um governador
geral para verificar a administração e organizar
a defesa, prestando auxílio às capitanias que
antes viviam isoladas.
Tomé
de Sousa é nomeado, e com ele vêm os primeiros
jesuítas que, nem bem chegados, dedicam-se de corpo
e alma ao trabalho de educação dos filhos dos
colonos e conversão dos índios.
Esse
primeiro grupo de jesuítas traz como chefe o Padre
Manuel da Nóbrega e é composto dos padres Leonardo
Nunes, João de Aspilcueta Navarro e Antônio Pires,
além dos irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jácome.
Segundo carta de Manuel da Nóbrega, os mil expedicionários
de Tomé de Sousa não encontraram mais do que
uns quarenta ou cinqüenta moradores na Bahia.
O
Padre Leonardo Nunes e o Irmão Diogo Jácome
são imediatamente enviados às aldeias de Ilhéus
e Porto Seguro, em missão de catequese. Depois, o Irmão
Vicente Rodrigues vai substituir o Padre Leonardo Nunes, que
segue para São Vicente.
Apóstolos
para o novo mundo - É o início da catequese.
Nem um segundo grupo de jesuítas, que chega de reforço
no ano seguinte, permite a execução do programa
de Nóbrega, um homem disposto a estender a ação
missionária a toda a gente.
O
apostolado dos jesuítas não era fácil.
Os brancos que viviam na Colônia, reduzida minoria diante
dos índios, em muitos lugares se deixaram absorver
pelos usos da terra, afastando-se dos costumes cristãos.
E, além disso, havia um clima de guerra, com a franca
revolta dos índios contra as tentativas de os fazerem
escravos.
A
dificuldade do trabalho e a amplidão dos projetos forçam
o Padre Manuel da Nóbrega a insistir em cartas aos
seus superiores de Portugal: quer novos padres e irmãos
para levar avante seus propósitos. E insiste com o
Provincial Simão Rodrigues, ressaltando que não
havia nem muita necessidade de seleção: que
mandasse para o Brasil os "fracos de engenho" e
os "doentes do corpo".
Doente
do corpo, José de Anchieta foi um dos escolhidos. Seu
grupo veio chefiado pelo Pare Luís de Grã, ex-reitor
do Colégio de Coimbra da Companhia de Jesus.
No
caminho de São Vicente, um desastre - A 8 de maio de
1553, na esquadra do segundo Governador Geral, Duarte da Costa,
parte essa terceria leva de jesuítas. A viagem se prolonga
até 13 de julho, mas se faz calma e sem acidentes.
O Irmão José de Anchieta, apesar da doença,
parece disposto, mostrando seu entusiasmo. Já na viagem
deixava entrever o missionário que seria, adaptando-se
a todo trabalho: cozinhava, pregava, planejava. Algumas semanas
após a chegada, Manuel da Nóbrega, provincial
jesuíta do Brasil, distribui os padres pelos colégios
que já começam a se espalhar pela terra. Com
o Padre Leonardo Nunes, que os viera esperar, um grupo seguiu
para o Sul, em direção a São Vicente.
Nele, Anchieta.
....................
Primitivo
barracão de taipa que serviu como origem da cidade
de São Paulo, em 21/1/1554
Imagem: enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História,
Ed. Abril, S.Paulo/SP, 1969, vol. I
Uma choupana com o nome de São Paulo - Leonardo Nunes
e seu grupo seguiram em dois naviozinhos que rumavam para
São Vicente. Na altura do Rio Caravelas, uma forte
tempestade desgovernou os barcos. Um deles, o que levava os
jesuítas, aproximou-se do litoral. Ao tentar se afastar
da terra, a tripulação foi surpreendida: o navio
roçou o fundo, o leme saltou e um choque mais forte
confirmou o encalhe. Muitos dos viajantes ficaram aterrorizados.
É o Padre Lourenço Brás, um dos presentes,
quem conta:
"Começou
a grita no navio e nos pusemos todos a rezar uma ladainha
e a chorar nossos pecados. E saímos com as relíquias
que ali trazíamos. Quis Nosso Senhor que foi o navio
resvalando um pouco, até que deu em quatro braças
de água, o qual quantos ali vinham tiveram por milagre.
Trataram logo de lançar âncora e arriaram o batel
fora, indo observar por onde derivava a corrente. E acharam
logo grande profundidade, menos onde nós nos achávamos,
e que dali não poderíamos sair senão
por uma boca estreita. Ordenaram então que eu recolocasse
o leme. E nisto se fechou a noite e ficamos ali para sair
pela manhã. E quando já parecia ser uma hora
da noite, sobrevém uma fortíssima tormenta de
vento contrário."
E
continua a descrever a cena: "Sai a esse tempo o piloto
fora, que estava debaixo da coberta repousando (e a gente
a gritar e a dizer que estávamos mortos), e tomou ele
mesmo um machado e cortou os mastros, enquanto outros sustentavam
a amarra. E todos gritando. E ao redor de nós rebentavam
os marouços..."
Náufrago
por dez dias - Só na manhã seguinte os viajantes
conseguiram chegar em terra. Nas proximidades, destruído,
estava o outro navio. Não tiveram outra alternativa
senão ficar, por cerca de dez dias, entre os índios,
alimentando-se de abóboras e de farinha.
Anchieta
convivia com os índios pela primeira vez. Encontrou
as mangabas, que achou parecidas com as sorvas de Portugal;
e as pitangas, que lhe lembraram amoras. Foram dias duros,
à espera de que com os restos do navio destruído
se reparasse o outro barco. E, com o naviozinho remendado,
seguiram para São Vicente, onde chegaram às
vésperas do Natal.
A
ação dos jesuítas se estendia de São
Vicente aos Campos de Piratininga, que o Padre Leonardo Nunes
já visitara e onde iniciara a catequese das principais
tribos.
Naquele
mesmo ano de 1553, por não querer a penetração
no território e desejoso de concentrar suas atenções
no litoral, Tomé de Sousa mandou reunir no planalto
piratiningano os portugueses que já começavam
a afundar interior adentro.
Os
projetos de Manuel da Nóbrega - Nessa ocasião,
como em outras, foi de grande utilidade, tanto para o governo
quanto para os jesuítas, a ação de um
português chamado João Ramalho, possivelmente
um náufrago, que morava no lugar há muitos anos
e era casado com a índia Bartira, filha do cacique
Tibiriçá. Com a ajuda de Ramalho, fundou-se
Santo André da Borda do Campo.
Entre
os projetos do Padre Manuel da Nóbrega, estava o de
alcançar o Paraguai e catequizar os índios carijós.
Para lá chegar, precisava de uma base no planalto e
por isso ordenou a construção de um barracão
para abrigo dos padres da Companhia. E, nos primeiros dias
de 1554, um grupo de religiosos, entre os quais Anchieta,
sobe a serra do Mar rumo ao planalto, onde vão se instalar.
É
nessa dura viagem a pé que o Irmão José
de Anchieta tem o seu primeiro contato com a floresta tropical.
A trilha aberta pelos tupis era tortuosa e Anchieta, que tão
bem viria a conhecer a rudeza desses caminhos, chegou a se
espantar com as densas matas. .......
....................
Fundação
de São Paulo, tela de Oscar Pereira da Silva, acervo
do Museu Paulista
Foto-reprodução: Rômulo Fialdini, em História
do Brasil, ed. Folha de São Paulo, 1997, S.Paulo/SP
Nasce uma cidade - O preparo do barracão do planalto,
junto a uma aldeia de índios, deu-se no dia 24 de janeiro.
É o próprio Anchieta, em carta, quem conta o
que aconteceu:
"A
25 de janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima
e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da
conversão do Apóstolo São Paulo e, por
isso, a ele dedicamos nossa casa".
Nascia
a cidade de São Paulo. Seus fundadores, sob a inspiração
de Manuel da Nóbrega, haviam sido os treze jesuítas
chegados de São Vicente. O grupo fundador, chefiado
pelo Padre Manuel de Paiva, era formado, além de Anchieta,
por Pero Correia, Manuel de Chaves, Gregório Serrrão,
Afonso Brás, Diogo Jácome, Leonardo do Vale,
Gaspar Lourenço, Vicente Rodrigues, Lourenço
Brás, João Gonçalves e Antonio Blasquez.
Mal
haviam instalado o barracão do colégio, imediatamente
passaram ao trabalho de catequese, como nos conta Anchieta:
"Nesta
aldeia, 130 de todo sexo foram chamados para o catequismo
e 36 para o batismo, os quais são todos os dias instruídos
na doutrina, repetindo orações em português
e na sua própria língua".
Os
primeiros tempos foram difíceis. O barracão
inicial servia de dormitório, enfermaria, escola, refeitório,
cozinha e até capela. Anchieta mesmo retrata a situação,
após alguns meses:
"Este
aperto era ajuda contra o frio que na terra é grande,
com muitas geadas. As camas são redes, que os índios
costuram; os cobertores, o fogo que os aquenta, para o qual
os irmãos, acabada a lição da tarde,
vão, por lenha, ao mato e a trazem às costas
para passar a noite; o vestido é mui pobre, de algodão,
sem calças, nem sapatos. Para a mesa usavam algum tampo
de folhas de banana em lugar de guardanapos; que bem se escusavam
toalhas, onde por vezes falta o comer; o qual não tinham
donde lhes viesse, se não dos índios, que lhes
dão alguma esmola de farinha e às vezes algum
peixinho de rio e caça do mato. Fazem alpercatas de
cardos bravos, que lhes servem de sapatos; aprendem a sangradores,
barbeiros e todos os mais modos e ofícios que podem
ser de préstimo a todos os próximos neste desterro
do mundo".
Uns
moços bem atrevidos - Em redor do colégio dos
padres foi-se formando a nova povoação. Junto
do primeiro barracão surgem outros, onde são
instaladas oficinas de carpitaria e sapataria, tudo de pau-a-pique
e sapé.
Por
ser o mais adiantado nos estudos, Anchieta desde logo foi
designado para ensinar gramática latina aos seus companheiros
e aos meninos mais estudiosos do colégio. E o jovem
irmão faz logo uma triagem entre os alunos, separando-os
em três turmas, de acordo com o que já sabiam.
Inteiramente entregue ao trabalho das suas três classes,
lutando contra a falta de livros, Anchieta passava horas inteiras
copiando em cadernos o que queria ensinar aos estudantes,
dando-lhes por escrito as lições.
Enquanto
isso, os índios iam aprendendo catecismo e se alfabetizando.
Pero Correia, um dos inhtegrantes do grupo, é quem
descreve:
"Temos
agora um lugar de indios convertidos, dez léguas pela
terra adentro, onde temos igreja e estão sempre dois
padres e muitos irmãos. Todos os dias da semana têm
doutrina duas vezes na igreja e no mesmo lugar há escolas
de meninos. Um irmão tem cuidado de ensiná-los
a ler e a escrever, e alguns deles a cantar; e quando algum
é preguiçoso e não quer ir à escola,
o irmão que tem o encargo deles o manda buscar pelos
outros, os quais o trazem preso e o tomam ás costas
com muita alegria. Os seus pais e suas mães folgam
muito com isso; e são alguns destes moços tão
vivos e tão bons e tão atrevidos que quebram
as talhas cheias de vinho (cauim) aos seus, para que não
bebam. Vai a coisa muito bem principiada".
Com
tanto trabalho, as costas doentes, o corpo franzino, Anchieta
poderia ter desistido. Mas é ele mesmo quem revela
a força do seu ânimo:
"Até
agora tenho estado em Piratininga. Ocupo-me em ensinar gramática
em três classes diferentes. E, às vezes, estando
eu dormindo, me vêm a despertar para fazer-me perguntas;
e em tudo isto parece que saro; e assim é, porque,
em fazendo conta que não estava enfermo, comecei a
estar são; e podeis ver minha disposição
pelas cartas que escrevo, as quais parecia impossível
escrever em Coimbra".
A
nova aldeia faz rápidos progressos - O Colégio
de São Paulo ia crescendo, com os jesuítas transformados
em construtores e carpinteiros. Índios vinham do sertão
atraídos pela novidade; colonos portugueses foram se
integrando ao novo núcleo. Logo se fechou o Colégio
de São Vicente, cujos professores e alunos foram transferidos
para São Paulo, aumentando a população
da vila que ia aos poucos progredindo.
Ensinando
às crianças índias os princípios
da fé cristã, Anchieta e seus companheiros sentiam
que esse era o caminho da conversão das tribos. Muito
mais curiosas, vivas e interessadas que os adultos, as crianças
aprendiam tudo com grande facilidade e, além disso,
por vezes ainda eram capazes de levar os ensinamentos aos
mais velhos.
As
aulas de catecismo, leitura, escrita e canto eram movimentadas.
E a vida do colégio, intensa. As construções
de pau-a-pique aumentavam, já se formava a primeira
rua, havia até uma nova igreja de taipa.
Durante
esses anos, Anchieta aprendeu a língua tupi, que usaria
para o resto da vida. Mais tarde, seus conhecimentos permitiriam
que escrevesse a Gramática da Língua Mais Falada
na Costa do Brasil, que viria a ser usada em todas as missões
jesuíticas do Brasil.
O
crescimento do Colégio de São Paulo passou a
exigir cada vez maiores contatos com o litoral, por onde vinham
mercadorias, víveres e notícias da Metrópole.
Para facilitar a ligação do planalto com São
Vicente, jesuítas, índios e colonos melhoraram
o caminho, alargando a antiga trilha dos tupis.
Na
época das chuvas, caíam árvores e barreiras,
o caminho ficava intransitável e as aulas tinham que
ser suspensas para que professores e alunos fossem desobstruir
a serra.
A
vida no planalto seguia neste ritmo, só alterado devido
à presença dos franceses no litoral brasileiro.
Uma
ameaça nova: os franceses - Em 1555, a baía
da Guanabara se tornara um reduto francês. Lá
se instalara, com seus comandados, o almirante Nicolau Durand
de Villegagnon, que conseguira uma aliança com os índios
da região, os tamoios, inimigos tradicionais dos tupiniquins.
As rotas portuguesas pelo litoral ficam sob constante ameaça
e, durante cinco anos, nada se fêz contra os franceses.
É
Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil, quem,
em 1560, se dispõe a combater o inimigo. E, ao lado
das primeiras tentativas para desalojar o invasor, intima
a população da vila de Santo André a
se unir ao aldeamento de São Paulo, elevado então
à condição de vila. É uma tentativa
de reforçar a defesa do planalto diante das ameaças
dos tamoios, estimulados pelos franceses.
Não
fora difícil aos franceses conquistar os tamoios, homens
altivos que há tempos lutavam contra portugueses que
pretendiam escravizá-los. E no começo da década
de 60 estremecia o planalto diante das ameças dos tamoios,
quando algumas tirbos tupiniquins, dos arredores de São
Paulo, unem-se a eles.
As
coisas ficaram difíceis a ponto de obrigar até
a transferência dos jesuítas e seu colégio
para São Vicente. São Paulo já era uma
região cobiçada, onde se assentavam muitas hortas,
pomares, lavouras de mandioca, milho, trigo e alguma cana.
A
3 de julho de 1562, um antigo aluno do colégio chega
às carreiras para contar que a vila ia ser atacada.
Dado o alarma, João Ramalho, nomeado capitão
pelo conselho da vila, assume o comando; ajudado por Tibiriçá,
seu sogro e cacique tupiniquim, fica com toda a responsabilidade
de defesa da vila e do colégio. Tribos das vizinhanças
foram chamadas para ajudar, assim como muitos colonos do litoral.
Com reforços de Santos e São Vicente, acorreu
outro pioneiro, Brás Cubas. A defesa estava preparada.
O
ataque veio na manhã de 10 de julho. Milhares de inimigos,
todos pintados e enfeitados de penas, fazendo uma barulheira
infernal. As lutas foram terríveis, com mortos e feridos
de ambos os lados. Mas os atacantes não conseguiram
tomar a vila e se retiraram.
Mesmo
assim resolveu-se construir fossos e muros e manter vigilância
permanente para evitar ataques de surpresa.
Por
todo o fim de 1562, e começo de 1563, os colonos revidam.
Há muitas notícias de ataques a tabas e de perseguições
aos indígenas. A esta altura, os franceses, que em
1560 haviam sido derrotados pelas dez naus comandadas por
Mem de Sá, reassumem suas posições na
baía da Guanabara, animados com o regresso do governador-geral
à Bahia.
A
presença dos franceses, aliada aos saque que colonos
faziam às aldeias dos índios, acabou por estimular
uma aliança entre as tribos de Bertioga a Cabo Frio,
que reunia também tribos do interior e do vale do Paraíba:
era a Confederação dos Tamoios. As investidas
dos confederados se multiplicam. É quando intervém
a experiência do Padre Manuel da Nóbrega, que
desde 1561 se encontrava em São Vicente, vindo da Bahia.
Nóbrega,
inimigo da escravização do índio, sente
desde logo que há razões de justiça ao
lado da confederação das tribos. E que só
uma missão de paz poderá aplacá-la. Decide,
pois, ir em pessoa tentar a paz. Para a missão, convida
Anchieta.
Missão de paz junto aos tamoios - Os dois pacificadores
partem de São Vicente em 21 de abril de 1563, no navio
de José Adorno, um genovês, que morava na vila.
E rumam para Iperoig. Ao se aproximarem de seu destino, Nóbrega
e Anchieta são certados pelos tamoios, que se mostram
hostis. Mas Anchieta, no mais puro tupi, os saúda com
promessas de paz e de amizade.
As
palavras de Anchieta convencem os índios. E eles os
acompanham até a praia, onde Caoquira, um chefe tamoio,
os hospeda em sua própria casa. O navio regressa a
São Vicente, mas o genovês Adorno fica com os
dois jesuítas.
Imediatamente
se iniciaram as conversações de paz, com Anchieta
servindo de intérprete, pois Nóbrega não
flava a língua dos índios. Antes de mais nada,
Caoquira, como porta-voz de seu povo, enumerou todas as queixas
da sua tribo contra os portugueses. Contou e tornou a contar,
durante dias e dias, todos os feitos dos bravos guerreiros
tamoios. Glorificou os antepassados, enalteceu os companheiros
vivos.
Tudo
isso, o rosário de queixas e a apologia dos companheiros
vivos e mortos, fazia parte dos costumes indígenas.
A Nóbrega e Anchieta cabia apenas escutar.
Ao
mesmo tempo, Caoquira mandara emissários chamarem todos
os chefes confederados para um encontro com os jesuítas.
Enquanto ouvem e esperam, os dois jesuítas missionários
conseguem sensibilizar os índios que os hospedam. Armam
até uma capela. Ali, ajudado por Anchieta e todo paramentado,
Nóbrega celebra missa todos os dias. Os índios
se encantam com a beleza da cerimônia. Após cada
missa, Anchieta explica em tupi a doutrina da Igreja. E com
muito barulho anda em volta dos índios, bate o pé,
gesticula e faz pausas nos momentos mais dramáticos
de suas falas. Cunhambebe e Pindobuçu, dois caciques,
já haviam chegado. E com suas tribos inteiras também
vinham para a missa.
Logo
Anchieta começa a ensinar às crianças
os hinos religiosos que compusera em tupi. A cantoria faz
a criançada muito feliz e atrai os adultos, que vão
ouvir os missionários.
Quando
melhor iam as coisas, surge perigosa ameaça na pessoa
do cacique Aimberê, que logo ao chegar convoca um conselho
de caciques, do qual os missionários não tiveram
possibilidade de participar.
No
conselho, Aimberê criticou seua aliados por terem acolhido
os jesuítas. Acreditava ser impossível um acordo
com os colonos, e queria evitar que se caísse naquilo
que lhe parecia mais um engano. Matar Nóbrega e Anchieta
e partir para o massacre final dos portugueses era a sua solução.
No entanto, outros caciques tinham uma posição
mais moderada e, afinal, em nome de todos, Aimberê leva
a Nóbrega e Anchieta uma proposta: só aceitariam
as conversações de paz se os portugueses lhes
entregassem os três caciques de São Vicente que,
por serem inimigos dos tamoios, deveriam ser sacrificados.
O
mais calmamente possível, Anchieta tenta mostrar a
inviabilidade da proposta. E a situação se agrava.
Aimberê não cede. Nem os jesuítas. É
quando Pindobuçu, mais velho e ponderado que Aimberê,
intervém, conciliador. Mas nada vai conseguir. Nóbrega
procura ganhar tempo: propõe que se consulte as autoridades
de São Vicente. O próprio Aimberê se oferece
como emissário. E segue viagem, com José Adorno,
levando carta em que Nóbrega recomenda duas coisas
às autoridades: que o tratamento dado a Aimberê
fosse o melhor possível e que a proposta de entregar
os índios amigos, naturalmente, não deveria
merecer cogitação.
Aimberê
e sua comitiva são recebidos em São Vicente
com todas as honras. E seguem-se conversações
por semanas a fio.
Enquanto
Aimberê negociava em São Vicente, Nóbrega
e Anchieta continuavam em Iperoig, onde os índios se
dividiam em pró e contra a paz. Certo dia, estando
os dois na praia, aproximam-se algumas canoas com índios
comandados pelo cacique Paranapuçu. Traziam a intenção
de matar os religiosos e, com gritos irados, anunciam seu
objetivo.
Nóbrega
e Anchieta, sem outra defesa, apelam para as pernas. E correm
o quanto podem até um riacho próximo. Nòbrega,
bem mais velho, não agüenta a carreira. E Anchieta
tem que ajudá-lo. No meio do riozinho, um tombo desastrado
dá um banho no provincial. Anchieta auxilia-o, carrega-o
nas costas e, com os perseguidores nos calcanhares, vão
se refugiar na casa de Pindobuçu. Mas o amigo Pindobuçu
não está, os índios já vêm
chegando com a sua ameaça. Nóbrega e Anchieta
se põem de joelhos e começam a rezar.
Chegados
à cabana de Pindobuçu, os índios deparam
com os dois jesuítas abraçados, rezando em voz
alta. E se espantam. Hesitam. Anchieta aproveita-se do momento
e toma a iniciativa. Começa a pregar em tupi, aos gritos,
até que os assaltantes, entre intimidados e surpresos
pela cena que não compreendem, deixam as armas e não
querem mais matar.
Como
nada se resolvesse em São Vicente nas intermináveis
conversações com Aimberê, Nóbrega
decide voltar sozinho, deixando Anchieta em Iperoig, pois
o retorno de ambos acabaria de vez com as conversações
e esperanças de paz.
Iperoig:
nas areias nasce um poema - Sem a companhia de Nóbrega,
Anchieta passa a enfrentar solitário os problemas da
convivência com os índios, cercado de zombarias
ao recusar as moças que lhe ofereciam como prova de
amizade. A queixa é sua:
"Estou
tão mal acompanhado, entre tantas ocasiões de
pecado e morte, cercado de bárbaros, nos quais a natureza
não conhecia pejo e a honestidade não era conhecida".
Volta
e meia surgiam perigos, como este: um cacique o ameaçou
de morte, culpando-o ela ausência de caça nas
armadilhas; Anchieta mandou, então, que voltasse a
examinar as armadilhas e o cacique e seus índios as
encontraram carregadas de caça. Um dia, há um
perigo mais grave, com a chegada de um mensageiro que traz
a notícia do assassínio, em São Vicente,
de um dos integrantes da comitiva de Aimberê. Irados,
os índios chegam a decidir a morte de Anchieta, quando,
providencialmente, surge das matas, mais vivo que nunca, o
tal índio sumido. O suposto assassinado havia apenas
fugido.
Depois
disso, Cunhambebe resolve que o missionário deveria
voltar a São Vicente para evitar futuras discórdias.
É o próprio cacique quem o conduz de regresso.
Em São Vicente são recebidos com grandes festas.
Na sua longa missão de sete meses entre os índios,
os jesuítas tinham conseguido restaurar a paz, pelo
menos com as tribos cujos chefes foram a Iperoig, para onde
voltam Cunhambebe e Aimberê.
Foi
nas longas semanas de Iperoig, nas intermináveis horas
passadas na praia, que Anchieta, com seu bordão, escreveu
na areia o poema De Beata Virgine Dei Matre Maria (Da Virgem
Santa Maria Mãe de Deus). Logo que se recolheu ao Colégio
de São Vicente, Anchieta tratou de passá-lo
para o papel: eram, ao todo, 4.172 versos em latim, rabiscados
na praia e decorados um a um.
....................
Com
o crescimento de São Paulo, surgiram as casas e a antiga
igreja matriz (Sé de 1588)
Imagem: enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História,
Ed. Abril, S.Paulo/SP, 1969, vol. I
Guerra do Rio de Janeiro - A paz com os tamoios, porém,
não foi durável. O poder de persuasão
dos jesuítas não podia atingir senão
as tribos mais próximas. A Confederação
dos Tamoios voltou a se reagrupar e houve novas escaramuças,
até que no ano seguinte, 1564, uma esquadra comandada
por Estácio de Sá, sobrinho do Governador Geral
Mem de Sá, chega a Santos.
Estácio,
dias antes, tentara desembarcar na baía da Guanabara
e fora duramente repelido pelos tamoios. Tão numerosos
e decididos eram os índios que Estácio não
pudera enfrentar e desistira de aportar no Rio. Na capitania
de São Vicente desejava obter reforços.
Nóbrega
e Anchieta, influentes em toda a região, conseguem
recrutar muita gente para reforçar a armada de Estácio.
Em 20 de janeiro de 1565, a esquadra de Estácio parte
para o Rio, onde chega no começo de março. E
com ela, no comando de nove canoas de índios e de mamelucos,
lá estavam o Irmão José de Anchieta e
o Padre Gonçalo de Oliveira, aos quais se uniram mais
índios vindos do Espírito Santo.
Junto
ao Pão de Açúcar, ergueram fortificações
e fizeram fossos. Gritos, rufar de tambores e cânticos
de guerra prenunciam a batalha. O mar em redor se cobre de
tamoios que, encorajados pelos franceses, vêm para o
ataque. A 6 de março ocorre a primeira batalha: a vitória
é dos tamoios e dos franceses. Dias depois, nova luta:
dessa vez a vitória é dos portugueses. Anchieta,
a esta altura, é enfermeiro de campanha. Em terra e
no mar os combates vão se desenrolando por dias, semanas
e meses.
Já
no início de 1566, o Irmão José de Anchieta
parte para Salvador com a missão de levar a Mem de
Sá um relato da situação. Para o religioso,
entretanto, a viagem encerra um significado ainda maior. Anchieta
vai aproveitar a oportunidade para se ordenar sacerdote. Após
longos preparativos e depois de um retiro, é ordenado
em agosto, por Dom Pedro Leitão, bistpo de todo o Brasil,
seu antigo colega de estudos em Coimbra. E é ali, na
Bahia, aos trinta anos de idade, que Anchieta reza a sua primeira
missa, ele que na sua humildade a si se referia como o "pobre
e inútil José".
Três
meses depois, o Padre José de Anchieta está
incorporado à esquadra preparada por Mem de Sá
para auxiliar seu sobrinho Estácio na conquista definitiva
do Rio. Todas as forças e recursos estão mobilizados.
Seguem, também, com a esquadra que se desloca para
o Sul, o Bispo Dom Pedro Leitão e o novo provincial
dos jesuítas, Luís da Grã.
Chegam
ao Rio em 18 de janeiro de 1567. Estácio e suas tropas
recobram o ânimo com a vinda de Mem de Sá. Os
combates se acirram até a vitória portuguesa,
com os tamoios subjugados e os franceses expulsos. Para garantir
a posse da terra, Mem de Sá estimula a implantação
de um núcleo de povoamento bem fortificado: é
São Sebastião do Rio de Janeiro que vai nascendo.
Nóbrega
e Anchieta decidem voltar a São Vicente. Querem transferir
o colégio para o Rio. As casas de Piratininga, São
Vicente, Santos e Vitória permanecem sob jurisdição
administrativa e eclesiástica de Nóbrega. No
Rio, para onde vão - Nóbrega como reitor do
colégio e Anchieta como auxiliar -, são recebidos
em meados de 1567 por Mem de Sá, que ainda lá
se encontrava, supervisionando a construção
da cidade no Morro do Castelo.
O
governador logo indicou gente para auxiliar na construção
do colégio. Finalmente instalados, todo o trabalho
administrativo ficou com Anchieta, que ainda encontrava tempo
para se dedicar à catequese em São Lourenço,
a atual Niterói.
A
morte do padre Anchieta, em detalhe do quadro Glorificação
de Anchieta,
de Lucílio de Albuquerque, pertencente ao acervo do
Museu da Cidade, em Niterói
....................
Imagem: enciclopédia Grandes Personagens da Nossa História,
Ed. Abril, S.Paulo/SP, 1969, vol. I
Um homem que não pára - Em 1570, com a doença
e morte do Padre Manuel da Nóbrega, Anchieta assume
o cargo de reitor do colégio do Rio, onde permanece
até 1573, quando é substituído pelo Padre
Lourenço Brás. Nessa ocasião segue para
a Bahia, em companhia do Padre Vicente Rodrigues.
Durante
a viagem, no Espírito Santo, junto à foz do
Rio Doce, um naufrágio os lança na praia. Os
dois padres seguem então a pé para Vitória,
onde chegam após 15 dias de marcha forçada.
Em Vitória, erguem a igreja de São Tiago. Dali,
após meses, partem para a Bahia, de onde Anchieta retorna
ao Rio e reassume a reitoria do colégio, voltando assim
ao seu trabalho predileto: catequese e aulas.
Em
1574, sempre inquieto, vai à capitania de São
Vicente e inicia a catequese dos tapuias, ajudado por um índio
que no passado salvara da morte. Junto com o Padre Manuel
Viegas, Anchieta consegue estabelecer uma reunião de
aldeamentos tapuias no lugar onde hoje está Guarulhos,
perto de São Paulo, e entrega-se ao trabalho.
Três
anos depois, em 1577, outro provincial, Inácio Tolosa,
pede a Anchieta que o acompanhe até a Bahia. Tolosa
queria nomeá-lo reitor do colégio da Bahia.
Mas, uma carta vinda de Roma, assinada pelo padre-geral da
Companhia, tem outro e mais importante desígnio: Anchieta
é nomeado provincial do Brasil, em substituição
ao próprio Inácio Tolosa. É o mais alto
cargo da Companhia de Jesus na Colônia.
Com
43 anos de idade, dos quais 24 passados como religioso no
Brasil, o Padre José de Anchieta assume o importante
cargo. Agora é obrigado a visitar todas as casas jesuíticas
do Brasil, missão que cumpre com alegria. Mesmo como
provincial, continuou a fazer suas viagens a pé e descalço,
despreocupado com a aparência e sem aceitar que o carregassem,
como era costume na época.
Foi
ao colégio de Olinda, em Pernambuco, de onde volta
à Bahia, seguindo mais tarde para o Espírito
Santo em visita a Reritiba. Depois, toma o caminho do Rio;
a seguir Santos, São Vicente, Itanhaém e São
Paulo.
Em
São Paulo, entusiasma-se com o que vê: ao redor
do primitivo barracão que conhecera há 25 anos,
floresce a vila, com o colégio já instalado
num grande casarão e muitas casas espalhadas em ruas
bem traçadas.
Durante
dez anos Anchieta não fez outra coisa senão
viajar num tempo de maus e vagarosos navios e de difíceis
caminhadas a pé. A doença que o acompanha desde
a mocidade se agrava e, em 1584, doente e cansado, escreve
ao padre-geral em Roma:
"Como
a minha doença começou há muitos anos
e agora, com a idade e os trabalhos, apertou mais, existe
pouca esperança de saúde; e assim espero que
o padre visitador me tirará o cargo da Província,
se a morte não tiver cuidado de o fazer".
Só
três anos depois, entretanto, é que consegue
substituto. Seu sucessor, Marçal de Beliarte, querendo
lhe dar maior conforto, pretende transferi-lo para o Rio.
Mas Anchieta prefere suas aldeias de índios, prefere
continuar seu trabalho humilde de catequese e vai para Reritiba,
no Espírito Santo.
No
final de 1591 é chamado mais uma vez à Bahia,
para opinar sobre questões da Companhia. De lá,
volta a Reritiba e, dois anos depois, é nomeado superior
do colégio da vila de Vitória e das quatro aldeias
de catequese a ele subordinadas. Só em 1595 consegue
dispensa de suas tarefas e retorna a Reritiba. Está
enfraquecido e doente e, pela primeira vez, permite que o
carreguem numa rede. Mas ainda uma vez se recupera, chega
a voltar ao cargo de superior de Vitória.
Em
1497, está de novo em Reritiba quando, no mês
de junho, seu estado de agrava. No dia 9 pede a extrema-unção.
Pesa sobre a aldeia de Reritiba a dor de perder o amigo, que
morre nesse mesmo dia, com 63 anos de idade e 44 anos de serviços
prestados ao Brasil. A dor de Reritiba espalha-se por toda
a colônia. Mais de 3 mil índios acompanharam
o enterro de Anchieta pelos 90 quilômetros que separavam
Reritiba de Vitória. O longo cortejo crescia a cada
passo. Todos choravam a morte de um homem que só teve
uma ambição na vida: a cristianização
do Brasil.
....................
Em
22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II beatificou
José de Anchieta,
em mais um passo no longo e complexo ritual de canonização.
Anos após sua morte, os restos mortais de Anchieta
foram levados para a igreja de Santiago, em julho de 1609,
e dois anos depois parte dos despojos retornou ao País,
para a Bahia. Entre os pertences dos jesuítas enviados
a Lisboa em 12 de abril de 1760, consta um cofre de jacarandá,
contendo as relíquias de Anchieta: quatro ossos de
duas canelas e duas túnicas.
Segundo
Antônio Henriques Leal (em Apontamentos para a história
dos jesuítas no Brasil extraídos dos cronistas
da Companhia de Jesus, de 1874), citando o padre Simão
de Vasconcelos, depois de sua morte "começou o
evangélico Anchieta a obrar muitos milagres em todas
as capitanias do Brasil'.