RELIGIÕES
POR QUE TANTA INTOLERÂNCIA E PRECONCEITO?
...................................................................................Valdir Pedrosa*


No capítulo nove do excelente livro “A Caminho da Luz”, ditado pelo Espírito Emmanuel ao médium Francisco Cândido Xavier, nos deparamos com a seguinte afirmação do preclaro benfeitor espiritual: “A gênese de todas as religiões da Humanidade tem suas origens no seu coração [do Cristo] augusto e misericordioso.”

Tal frase nos faz pensar na intolerância e no preconceito religioso que ainda existem em alguns adeptos das mais diversas religiões do mundo. É verdade que atualmente essa triste enfermidade é encontrada em menor escala do que há algumas décadas, entretanto ainda assistimos a confrontos entre profitentes de diferentes segmentos religiosos tanto na Europa quanto na Ásia. Muitas vezes bem próximo a nós podemos constatar que o preconceito continua fazendo suas vítimas em função da ignorância, da falta de conhecimento que assola muitos irmãos que não conseguem compreender e nem ao menos respeitar as religiões diferentes das suas.

Compreendemos que tudo isso faz parte do atual estágio evolutivo da humanidade. Não obstante, entendemos que muito tem se feito para diminuir tais problemas. Falemos especificamente da nossa Doutrina Espírita, terreno em que podemos pisar com mais segurança, por ser a religião que professamos. Já há alguns anos o CEI (Conselho Espírita Internacional), a FEB (Federação Espírita Brasileira), as federativas estaduais (como a UEM – União Espírita Mineira, por exemplo) e, principalmente, os núcleos espíritas têm feito um amplo e notável trabalho de divulgação do Espiritismo, capaz de iluminar as trevas da ignorância, levando às pessoas a correta compreensão do que é realmente a Doutrina dos Espíritos, seus objetivos, seu estudo e sua prática. É o remédio infalível contra a intolerância e o preconceito. É óbvio que ainda existem corações empedernidos que não enxergam ou não querem enxergar a sua grandeza. São terras áridas que recusam o recebimento das sementes de luz. Continuarão enclausurados em suas masmorras íntimas até o momento em que a Lei do Progresso lhes bater à porta, compelindo-os ao entendimento. Atualmente, as pessoas em geral já não se assustam quando dizemos: “Sou espírita!” Se não compreendem, pelo menos já respeitam nossa opção.

Para aqueles que continuam difamando, perseguindo e atacando de diversas formas as religiões alheias, fica o lembrete de Emmanuel, pois que todas elas partem do coração augusto e misericordioso do próprio Cristo. Desta forma, espíritas, católicos, protestantes, evangélicos, budistas, hinduístas, judeus, muçulmanos, teosofistas, esotéricos, ocultistas, umbadistas, candomblecistas, taoístas, etc., são todos irmãos, percorrendo caminhos diferentes que levam ao mesmo destino: a Deus, Pai de todos nós. Portanto, não há motivo para discriminar.

No Evangelho de Jesus, roteiro de paz para toda a humanidade, o próprio Mestre nos mostra o caminho a seguir, o qual independe de qualquer rótulo religioso. Esse caminho é o do amor incondicional por todas as pessoas. Em Mateus (22:37-40), Jesus ensina: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” O Cristo, então, resume os dez mandamentos recebidos por Moisés no Monte Sinai em apenas duas ordenações de sublime significado.

Em João (13:34-35), encontramos novamente Jesus falando sobre o grande mandamento. Assim ensina Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” Como podemos querer ostentar o título de discípulos de Jesus se não somos capazes de respeitar a opção religiosa do outro, se ainda atacamos e humilhamos aqueles que seguem uma religião diferente da nossa? É preciso que paremos um pouco e meditemos no assunto. Jesus trouxe ao mundo uma forma de vida baseada na vivência do amor em todos os seus aspectos: na prática da caridade, da tolerância, da fraternidade, da humildade, da simplicidade e do respeito. A intolerância e o preconceito foram criados pelos homens, tendo sua origem nos corações egoístas, orgulhosos e vaidosos.

Allan Kardec, na questão 842 de “O Livro dos Espíritos”, questionou: “Por que indícios se poderá reconhecer, entre todas as doutrinas que alimentam a pretensão de ser a expressão única da verdade, a que tem o direito de se apresentar como tal?” Resposta dos Espíritos Superiores: “Será aquela que mais homens de bem e menos hipócritas fizer, isto é, pela prática da lei de amor na sua maior pureza e na sua mais ampla aplicação. Esse o sinal por que reconhecereis que uma doutrina é boa, visto que toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa.”

Queremos crer que todas as religiões, em essência, têm como objetivo elevar o homem espiritualmente. Entretanto, sabemos que, infelizmente, existem pessoas que se dizem religiosas e que mantém um comportamento em total desarmonia com os preceitos que diz esposar. Assim sendo, é necessário distinguirmos as religiões dos religiosos e vigiarmos bem os nossos próprios passos para que não venhamos a nos tornar hipócritas, tendo uma postura teórica muito bela, porém não condizente com a nossa prática diária.

Os verdadeiros líderes religiosos não pregam o sectarismo e a desunião dos homens, mas sim convida-os a vivenciarem incessantemente a lei de justiça, amor e caridade, ensinada pelo Cristo e ratificada pelo Consolador Prometido, uma vez que a religião que nos liga a Deus é uma só: o Amor.


Valdir Pedrosa – Agosto/2009

* Espirita, orador espirita dirigente e responsavel pelo departamento doutrinario do Nucleo espirita maria de nazare em BH